Resumo - Terry Eagleton - "Teoria da Literatura: uma introdução"
Trabalho feito por mim para a disciplina Teoria da Literatura 1 que recebeu feedback positivo do docente responsável pela matéria.
As bases da Literatura
O filósofo e crítico literário Terry Eagleton, no capítulo introdutório do livro "Teoria da Literatura: uma introdução", analisa a definição de Literatura ao longo dos séculos e aponta elementos que mostram o que era pelo senso comum, e é até a atualidade, considerado Literatura, refletindo sobre a razoabilidade desses critérios.
Embora uma das tentativas de definição seja por meio da separação ‘escrita ficcional versus escrita não-ficcional’, autores importantes para o desenvolvimento científico e intelectual inglês do século XIX, como Bentham, Marx, Darwin e Herbert Spencer, não seriam incluídos nesse agrupamento, segundo o autor. Também haveria dificuldade de encaixar as notícias de jornal, uma vez que sua veracidade era altamente questionável, e os romances, cujo conteúdo não era definido como fato ou ficção com facilidade. Portanto, fica claro que o critério imaginativo não consegue abarcar a maior parte das obras reconhecidas, o qual não pode ser o único considerado.
Então, Eagleton escolhe uma nova forma de classificação: o tipo de linguagem utilizado no texto. Sob esse viés, a Literatura caracteriza-se pelo uso da linguagem de maneira especial. Os formalistas russos do início do século XX defendiam essa teoria. Para um destes, o crítico Roman Jakobson, a literatura era como uma "violência organizada contra a fala comum", pois naquele período eram analisados, entre outros pontos semelhantes, a forma e a estrutura do texto. O conteúdo, com suas interpretações e intencionalidades, era, além de negligenciado, visto por esses estudiosos como objeto de análise de outros profissionais e como o apoio para o exame da forma. Mais tarde, já pensavam na obra literária como um conjunto de artifícios interligados; som, imagens, ritmo e sintaxe são alguns exemplos. Tais elementos teriam, segundo eles, o objetivo de chamar a atenção a partir da “deformação” da linguagem. Dessa forma, a literatura modificaria a fala cotidiana, antes considerada “normal”, tornando-a “estranha” também. Mas, partindo da premissa que a linguagem habitual varia de acordo com o grupo social, com a situação e com o período histórico, não é possível defender a existência de uma linguagem comum e homogênea. No entanto, isso não apontava uma falha na análise social dos formalistas, pois seu objetivo era definir a literaturidade, que são os usos peculiares da linguagem, presente tanto em textos “literários” quanto em textos não-literários. Na coloquialidade, marcada pelas gírias, esse tipo de uso é mais comum que no âmbito literário. Um exemplo no cânone brasileiro é o poema de Oswald de Andrade, O capoeira (1925), no qual a variação diastrática (entre os estratos sociais) é destacada no verso “Qué apanhá sordado?”. A suposta estranheza gerada por diferentes tipos de linguagem tampouco inclui, segundo o autor, tudo que pode ser chamado literatura. Ele lembra das piadas, dos slogans e das manchetes de jornais, que mesmo sendo construídas de forma bela, não são consideradas literárias. Ele afirma também que todos os textos podem causar estranheza se forem pensados para este fim; a ambiguidade em algum aviso, como “Cachorros devem ser carregados na escada rolante”, ele exemplifica, pode permitir que diferentes interpretações sejam feitas e, além disso, que essa frase trivial seja considerada literatura.
Nesse contexto, o autor defende que a distinção entre literatura e “não-literatura” depende da conexão entre o leitor e a escrita e do efeito que esta gera no leitor. Por causa disso não se pode enumerar características que definem ou não a Literatura. Muitas vezes é feita a distinção com base na “beleza” da escrita, mas nem toda escrita “bela” será considerada literária; conforme o autor, ela precisa ser do tipo bela. Devido à imprecisão para caracterizar esse objeto de estudo, Eagleton entende que a Literatura não é um conceito “objetivo” e fixo ao longo do tempo; Qualquer tipo de texto pode se encaixar nesse conceito e qualquer que hoje se encaixa pode, a partir dos valores de determinado período histórico, ser desconsiderado literatura.
No processo de reavaliação de alguma obra, sempre há modificações conforme a realidade social do momento, o que demonstra a flexibilidade da constituição literária. Os interesses particulares influenciam também essa releitura e estão relacionados com os valores do período. Eagleton encerra o capítulo introdutório com a seguinte explanação: o que define a Literatura não são nossos gostos particulares, mas os juízos de valor, que se distinguem dos primeiros por serem fruto das crenças já enraizadas e por se relacionarem às ideologias que marcam e justificam as relações de poder na sociedade.
Por: Fernanda de Castro Coutinho
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